terça-feira, fevereiro 08, 2005

Economia: considerações epistemologicas

"Existe a microeconomia e a economia"
Miguel Beleza

Expressões deste tipo são claras da "esquizofrenia" que se vive na ciência, o conflicto entre os microeconomistas e os macroeconomistas. Mas como é que os economistas, entre eles chegam a conclusões tão dispares entre eles?
Tal situação pode em grande facto ser explicado por um facto que, segundo Karl Popper, não deve acontecer a uma ciência: a coexistência de dois metodos epistemologicos distintos.
Segundo ele, tais metodos eram antiteticos, não podendo coexistir, e caso tal sucedesse provocaria uma paralesia no processo de formação cientifica.
Mas que dois metodos epistemologicos?

Comecemos pela Microeconomia:
É de base analogico-axiomatica, querendo isto dizer que se transporta de outras ciencias um conjunto de conceitos com os quais se constroem axiomas, sobre os quais se desenvolvem os modelos. No caso da Micro, foram feitas analogias com a Fisica(particula - preço e por ai adiante) em especial com a hidro/termodinâmica(o funcionamento dos mercados será semelhante ao funcionamento da dinamica dos fluidos ou de ondas de calor).
Com base em axiomas como convexidade, continuidade, transitividade de preferencias, não saciedade, racionalidade constroem-se modelos que depois se comparam à realidade.

Agora a Macroeconomia:
A macroeconomia no entanto obdece a um paradigma mais darwiniano, sintetizado na expressão "primeiro observa-se a realidade, recolhe os dados e depois constroe-se a teoria". É uma ciência de cariz muito empirico, muito baseada em dados estatisticos. Obviamente que tal pode ser uma fraqueza quando da presença de poucas amostras (um problema real no caso da series temporais) mas que gera conclusões mais proximas da realidade.

Tais metodos podem dar origem as conclusões diferentes senão contraditórias. E obviamente que tentar fundamentar a macroeconomia com a microeconomia pode eviesar os resultados.
Vejamos dois exemplos:
Equivalência Ricardiana
Na sintese que é feita entre a macro e a micro, Robert Lucas afirma o seguinte:
Se as expectativas forem racionais e os agentes optimizadores e actuantes com os pressupostos do comportamento microeconomico, então uma descida de impostos é vista pelos consumidores como um divida futuro, pelo que pouparam uma porção do seu rendimento em igual proporção à descida dos impostos. Logo politicas fiscais não têm qualquer efeito sobre o rendimento da economia como um todo.
Tal conclusão faz sentido perante os pressupostos, mas se retirar-mos a racionalidade a conclusão deixa de fazer grande sentido. Evidencias empiricas também não demonstram de forma conclusão a existencia deste fenómeno, antes pelo contrario, indo um pouco contra a racionalidade.
Miopia do consumidor
Em Micro estuda que as funçãos de procura derivadas pelos metodos da disciplina são homogeneas de grau zero nos preços e nos rendimentos. Quer isto dizer que o consumidor não é miope(se o seu rendimento alterar na mesma proporção dos preços a procura dele não se altera).
No entanto em Macro verifica-se empiricamente que no curto prazo o consumidor pode ser miope, podendo alterar o seu consumo perante uma alteração das variaveis. Ou seja o consumidor não percebe que se os rendimentos aumentarem, por exemplo 3%, com uma inflação de por exemplo 5%, que ele está pior do que estava, olhando apenas para o seu aumento de rendimento.

Uma grande razão para estas discrepancias tem sido dada:
Os comportamentos quando agregados alteram-se, eu não ajo da mesma maneira quando em grupo ou sozinho. Correcto, mas considero que tal não explica na totalidade o desvio entre as duas subdisciplinas, que considero mais explicadas(mas não totalmente) pela explicação acima.



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