segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Máxima politica

"O poder não se ganha... Perde-se"

A memória é curta...

Decidi, ao ver as declarações de José Socrates e quem o acompanhava, não comentar o seu discurso.
Submeto como alternativa um lembrete, para nos lembrar quem voltámos a colocar no poder, desta vez com uma maioria absoluta nas mãos.
A memória em politica é definitivamente muito curta...

domingo, fevereiro 20, 2005

Eleições IV

Santana acaba de anunciar que irá pedir um congresso extraordinário. Assume a responsabilidade, não deixando no entanto de a "partilhar" com Durão Barroso e Jorge Sampaio.
Este anunciado congresso, teme-se, será um lavar de roupa suja, e espera-se que desse conclave saía uma clarificação ao País sobre quem somos e para onde queremos ir. Será no final do dia um julgamento politico.
No entanto, como eu temia, Santana Lopes não esclarece se irá ao congresso demitir-se, defender-se ou recandidatar-se.
Santana está, anunciadamente, morto politicamente, mas tenta, ao não clarificar a sua situação, condicionar esse mesmo congresso, numa última tentativa de sobrevivência.
Aguardemos os proximos episódios...

Eleições III

É com pesar que assisto Paulo Portas acabar de anunciar a decisão de se demitir do cargo de Presidente do CDS/PP.
Por muito que por diversas vezes não tenha estado de acordo com as posições por ele assumidas, e por muitas vezes critiquei a coligação, era necessário um partido que se assumisse em Portugal como de direita democrata-cristã. Paulo Portas conseguiu o que nunca ninguém achou possivel:
Transformar o "Partido do Taxi" num partido passivel de se coligar ao PSD, de governar, de apresentar propostas.
A bem ou a mal, Paulo Portas foi um bom Ministro da Defesa. A bem ou a mal foi ele que reformou as nossas Formas Armadas, as profissionalizou, as reequipou.
Podemos não estar de acordo com o seu ideario politico, e reafirmo que muitas vezes não estive, mas a verdade é que ele era uma peça necessária no parlamento.

Fez aquilo que se exige a um lider, assumiu a derrota política (e a sua derrota não é tão grande como por exemplo a derrota do PSD) e assumiu a responsabilidade pessoal dessa derrota.
Saí como um grande lider partidário, saí como um bom ministro numa pasta dificil, saí mostrando uma ética politica inigualavel na direita actual.

PS: Concordo com Paulo Portas numa questão:
Em nenhum país do mundo a diferença entre a democracia-cristã e o trotskismo é 1%.

Eleições II

Marques Mendes foi o primeiro dos "barões" a falar. Assumiu a derrota, apelou à união interna. Mostra assim a cara, face a um partido destroçado e desorientado. Mostra-se como candidato e potencial lider, que sabe assumir o fardo da derrota. E na mente do povo português foi ele que assumiu esse fardo.
Santana permanece calado, quando deveria ser o primeiro a dirigir-se à nação, perante tão expressiva mensagem. Perdeu o timing, e foi condicionado por Marques Mendes...
Santana deveria ser o primeiro a reconhecer o significado da mensagem:
Os portugueses não votaram no PS por quererem Socrates mais do que outro, votaram no PS porque não queriam que existisse a possibilidade de voltarem a ter Santana Lopes como Primeiro-Ministro. Foi um voto anti-Santana que se concentrou no PS.
Santana permanece calado, quando deveria ser o primeiro a admitir que já não terá condições politicas para governar o PSD.
Santana permanece calado, enquanto outros assumem o fardo que é dele... o fardo duma derrota que ficará na história de Portugal.

Eleições

A confirmarem-se os resultados(escrevo quando estão apuradas cerca de um quinto das freguesias do País) fez-se história eleitoral em Portugal.
Por um lado temos uma derrota histórica do PSD(que pode ficar abaixo do seu resultado das Contituintes, Mota Pinto ou Fernando Nogueira), que exige uma clara reflexão interna. Todos podemos prever como irá o PSD reagir, pedindo um congresso extraordinário, cruxificando Santana Lopes e Durão Barroso.
Santana está politicamente morto, jogou o "tudo ou nada" e perdeu. Só tem uma saida, demitir-se e ir a congresso (tentar) defender-se. Os barões irão lavar a roupa suja acumulada durante 3 anos. Surge a questão se disso emergirá uma solução.
Por outro lado temos, pela primeira vez na nossa história, a passagem dum partido da oposição directamente para uma maioria absoluta. Muitos dirão que o mérito é do eng. Socrates e do Partido Socialista, mas a verdade é que o povo português acaba de passar um cheque em branco a um conjunto de governantes que já mostraram o que sabem(ou nao sabem) fazer. O eng. Socrates nada teve de fazer, o PSD fez por ele. O PS tem uma maioria absoluta não por ter as melhores ideias, pois ninguém viu um verdadeiro debate de ideias, mas pela forma como o PSD governou o País. Assistimos a um secretário-geral do PS que numa pose arrogante nada disse, sabendo que nada tinha de dizer para ganhar.
Veremos se o eng. Socrates consegue assumir a enorme responsabilidade que tem em mãos. Ele tem neste momento o poder para fazer as reformas que o País real necessita, a questão é se o PS as quererá fazer. Não me parece.
Sampaio sai deste quadro como o homem que enquanto Presidente retirou uma maioria a um partido para entregar essa maioria ao seu próprio partido.
Vamos ver que governo reunirá o eng. Socrates. Vamos esperar para ver...

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

O que não diria ele dos nossos politicos...

"Dêem-me seis linhas escritas pelo homem mais honesto, e encontrarei algo com que o enforcar"
Cardeal Richelieu

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Conflito israelo-palestiniano: será desta?

Em Sharm el-Sheikh, o lider da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, e o Primeiro Ministro de Israel, Ariel Sharon, assinam (mais um...) tratado de paz para o conflito.
Confesso a minha desconfiança sobre o Tratado. Não vou atirar culpas a nenhum dos lados, pois acho que o primeiro acto já há muito que se perdeu, estando neste momento o conflito na situação de "nós atacamos, porque os nossos pais atacavam e os nossos avós também atacavam...".
Mas surgem questões pertinentes:
1. Conseguirá Mahmoud Abbas cumprir com a sua parte e conter o Hamas, a Jihad Islâmica, entre outros? Não nos esqueçamos que o mesmo Mahmoud Abbas que hoje quer a paz teve discursos anti-sionistas na sua campanha de eleição. Não nos esqueçamos quem fornece em grande parte os serviços de saúde, segurança social, educação e trabalho aos palestinianos, o Hamas.
2. Conseguirá Ariel Sharon por fim à influência da ala radical no seu governo? Descontemos o facto de ser um criminoso de guerra(Yasser Arafat também o era...), ele é neste momento a unica aposta para a paz. Será ele capaz de desmantelar pacificamente os colunatos na Palestina? Será ele capaz de fazer Israel obedecer, de uma vez por todas, às linhas de fronteira definidas nos acordos de Dayton?
3. A ultima questão é o muro. Descontando o facto de ser contraproducente, concedo no entanto o direito aos israelitas de se protegerem. Agora sob o manto de um tratado de paz, de um rumo para a região, tudo isto baseado na confiança de que ambas as partes honraram os compromissos assumidos, como se poderá manter um muro que simboliza a desconfiança de um povo em relação a um seu vizinho?
4. Jerusalem. A "cidade três vezes santa" permanece no centro da discordia. Os palestinianos reivindicam-na para capital do futuro Estado Palestiniano, os israelitas não abdicam na cidade berço da sua religião. Entender-se-ão quanto a esta matéria?

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Economia: considerações epistemologicas

"Existe a microeconomia e a economia"
Miguel Beleza

Expressões deste tipo são claras da "esquizofrenia" que se vive na ciência, o conflicto entre os microeconomistas e os macroeconomistas. Mas como é que os economistas, entre eles chegam a conclusões tão dispares entre eles?
Tal situação pode em grande facto ser explicado por um facto que, segundo Karl Popper, não deve acontecer a uma ciência: a coexistência de dois metodos epistemologicos distintos.
Segundo ele, tais metodos eram antiteticos, não podendo coexistir, e caso tal sucedesse provocaria uma paralesia no processo de formação cientifica.
Mas que dois metodos epistemologicos?

Comecemos pela Microeconomia:
É de base analogico-axiomatica, querendo isto dizer que se transporta de outras ciencias um conjunto de conceitos com os quais se constroem axiomas, sobre os quais se desenvolvem os modelos. No caso da Micro, foram feitas analogias com a Fisica(particula - preço e por ai adiante) em especial com a hidro/termodinâmica(o funcionamento dos mercados será semelhante ao funcionamento da dinamica dos fluidos ou de ondas de calor).
Com base em axiomas como convexidade, continuidade, transitividade de preferencias, não saciedade, racionalidade constroem-se modelos que depois se comparam à realidade.

Agora a Macroeconomia:
A macroeconomia no entanto obdece a um paradigma mais darwiniano, sintetizado na expressão "primeiro observa-se a realidade, recolhe os dados e depois constroe-se a teoria". É uma ciência de cariz muito empirico, muito baseada em dados estatisticos. Obviamente que tal pode ser uma fraqueza quando da presença de poucas amostras (um problema real no caso da series temporais) mas que gera conclusões mais proximas da realidade.

Tais metodos podem dar origem as conclusões diferentes senão contraditórias. E obviamente que tentar fundamentar a macroeconomia com a microeconomia pode eviesar os resultados.
Vejamos dois exemplos:
Equivalência Ricardiana
Na sintese que é feita entre a macro e a micro, Robert Lucas afirma o seguinte:
Se as expectativas forem racionais e os agentes optimizadores e actuantes com os pressupostos do comportamento microeconomico, então uma descida de impostos é vista pelos consumidores como um divida futuro, pelo que pouparam uma porção do seu rendimento em igual proporção à descida dos impostos. Logo politicas fiscais não têm qualquer efeito sobre o rendimento da economia como um todo.
Tal conclusão faz sentido perante os pressupostos, mas se retirar-mos a racionalidade a conclusão deixa de fazer grande sentido. Evidencias empiricas também não demonstram de forma conclusão a existencia deste fenómeno, antes pelo contrario, indo um pouco contra a racionalidade.
Miopia do consumidor
Em Micro estuda que as funçãos de procura derivadas pelos metodos da disciplina são homogeneas de grau zero nos preços e nos rendimentos. Quer isto dizer que o consumidor não é miope(se o seu rendimento alterar na mesma proporção dos preços a procura dele não se altera).
No entanto em Macro verifica-se empiricamente que no curto prazo o consumidor pode ser miope, podendo alterar o seu consumo perante uma alteração das variaveis. Ou seja o consumidor não percebe que se os rendimentos aumentarem, por exemplo 3%, com uma inflação de por exemplo 5%, que ele está pior do que estava, olhando apenas para o seu aumento de rendimento.

Uma grande razão para estas discrepancias tem sido dada:
Os comportamentos quando agregados alteram-se, eu não ajo da mesma maneira quando em grupo ou sozinho. Correcto, mas considero que tal não explica na totalidade o desvio entre as duas subdisciplinas, que considero mais explicadas(mas não totalmente) pela explicação acima.



Falha de mercado

Um exemplo classico que se utiliza para caracterizar o mercado e os seus equilibros é a analogia da fila do supermercado. Diz a teoria que elas se equilibram automaticamente devido à racionalidade dos agentes envolvidos.
No outro dia verifiquei este exemplo.
Eram duas filas, uma com 15 pessoas à espera, outra com apenas 2. Claramente, segundo a teoria, elas deveriam estar a reequilibrar-se mas tal não acontecia.
O porquê era explicado por uma assimetria de informação: Uma prateleira de produtos estava entre as duas filas para a caixa. As pessoas na fila mais longa desconheciam a existencia da outra fila mais pequena, e não equilibravam.
Pode argumentar-se que se a prateleira não estivesse no meio, as filas seriam iguais. Tal está correcto, mas dado que ainda não existe nenhuma lei que imponha prateleiras entre as filas, então a decisão de a colocar lá dependeu unicamente da empresa que gere o supermercado, que agindo racionalmente e portanto optimizando custos e lucros, decidiu ali colocar a prateleira.
O mercado estava em pleno funcionamento, e o optimo da situação não era eficiente.
Tal atitude da empresa, não faz grande sentido se ela estiver a optimizar:
Menos tempo perdido na caixa = mais satisfação do cliente(maiores lucros potenciais) + menos tempo perdido(menores custos variaveis).
A razão para a existencia da prateleira é então de outra natureza.

Note-se então o argumento, epistemologico, da questão: Se os agentes não forem racionais e portanto optimizadores, podem-se criar assimetrias de informação que deitam por terra o equilibro geral. As leis de Walras falham perante tais assimetrias.
Neste momento estão os fãs da Microeconomia aos gritos:
Pois mas se leres bem os teus livros de curso lês que esses equilibrios se verificam se verificadas utilidades marginais decrescentes, convexas, não saciaveis, comportamento optimizador e a não existencia de externalidades, etc.
Pois bem, este argumento faz-me recordar uma piada contada por uma Professora minha sobre um economista numa ilha deserta na companhia de um amigo e de uma lata de conserva mas sem abre latas. Quando colocado a questão de como abrir a lata ele replica: "Na eventualidade de termos um abre-latas..."